HABITA-ME
2021
Photo collage
You don’t enter this building.
In this building, you imagine leaving.
PT
Na cidade onde as fachadas mentem
e os cantos agudos cortam o horizonte,
ergue-se um prédio sem morada certa.
Não é de cimento — é de promessa prensada,
de cartão armado com memória e ironia.
As janelas olham para lado nenhum.
Encerradas. Silenciosas.
Como olhos que se recusam a ver
que este edifício não sustenta vida,
apenas a ilusão de que poderia.
É um truque de perspetiva —
a arquitetura da mentira urbana,
onde cada andar esconde
a planura de uma existência dobrada.
Aqui, o lar é caixa, e a caixa é cárcere.
Quem desenhou esta esquina absurda?
Talvez um deus cansado do real,
ou um artista farto da lógica.
Neste prédio não se entra.
Neste prédio, tu imaginas-te a sair.
Na cidade onde as fachadas mentem
e os cantos agudos cortam o horizonte,
ergue-se um prédio sem morada certa.
Não é de cimento — é de promessa prensada,
de cartão armado com memória e ironia.
As janelas olham para lado nenhum.
Encerradas. Silenciosas.
Como olhos que se recusam a ver
que este edifício não sustenta vida,
apenas a ilusão de que poderia.
É um truque de perspetiva —
a arquitetura da mentira urbana,
onde cada andar esconde
a planura de uma existência dobrada.
Aqui, o lar é caixa, e a caixa é cárcere.
Quem desenhou esta esquina absurda?
Talvez um deus cansado do real,
ou um artista farto da lógica.
Neste prédio não se entra.
Neste prédio, tu imaginas-te a sair.
EN
In a city where facades lie
and sharp corners slice the skyline,
rises a building with no true address.
It’s not made of cement — but of pressed promises,
of cardboard armed with memory and irony.
The windows look nowhere.
Shut. Silent.
Like eyes refusing to see
that this building holds no life,
only the illusion that it could.
It’s a trick of perspective —
the architecture of urban deceit,
where every floor conceals
the flatness of a folded existence.
Here, home is a box, and the box is a prison.
Who designed this absurd corner?
Perhaps a god tired of reality,
or an artist fed up with logic.
You don’t enter this building.
In this building, you imagine leaving.
In a city where facades lie
and sharp corners slice the skyline,
rises a building with no true address.
It’s not made of cement — but of pressed promises,
of cardboard armed with memory and irony.
The windows look nowhere.
Shut. Silent.
Like eyes refusing to see
that this building holds no life,
only the illusion that it could.
It’s a trick of perspective —
the architecture of urban deceit,
where every floor conceals
the flatness of a folded existence.
Here, home is a box, and the box is a prison.
Who designed this absurd corner?
Perhaps a god tired of reality,
or an artist fed up with logic.
You don’t enter this building.
In this building, you imagine leaving.
HOME